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  • Foto do escritorEditora Pedregulho

Entrevista com Marília Carreiro

Atualizado: 12 de ago. de 2020

Editora, escritora e idealizadora da Pedregulho, Marília Carreiro Fernandes tem três livros publicados: "Opala Negra" (2013), "AmorS e outros contos" (2013), o mais recente "Lama" (2019) e um quarto livro já em finalização para lançar em breve, intitulado "Pretendo fechar os olhos assim que puder".


À frente da Editora Pedregulho há sete anos, ela conta um pouco dessa trajetória e também sobre os desafios que vê pela frente.


Confira nossa entrevista:



1 - Depois de 7 anos da editora Pedregulho, como é olhar para trás e ver como a editora cresceu e se tornou referência na publicação da diversidade em todas as formas?

Desde que decidi fundar a Pedregulho, tinha em mente que ela seria uma editora plural, para trabalhar a diversidade em todas as suas formas. Era (e ainda é) um desejo que as minorias sejam colocadas em destaque, produzindo e lançando textos, blogs e livros físicos ou digitais, observando sempre os novos procedimentos e segmentos de produção de conhecimento, adaptando esses conceitos ao generalizado e crescente interesse pela literatura, favorecido pela internet, através de plataformas on-line. Sempre tive parcerias que muito acrescentaram à editora, fosse por revisões, dicas, ajudas das mais diversas. E todas essas pessoas que estiveram, de alguma forma ligadas à editora em algum momento desses anos trouxeram a Pedregulho até aqui. Hoje temos uma equipe composta por mulheres - e isso era um objetivo de 2013, que foi concretizado em 2019/2020 - dedicadas à criação de obras únicas e focadas na aproximação dos leitores para com a literatura. Acreditamos todas que a literatura deve ser direito de todo mundo e, por isso, adotamos formatos (como as publicações digitais de livre distribuição, por exemplo) que chegam para todo o público leitor, em qualquer lugar do mundo. 


É muito bonito olhar pra trás e ver que trilhei um caminho, como produtora editorial, que permitiu tantos autores publicarem seus livros. Foi uma proposta e uma aposta, desde 2013, que deu certo. Com o tempo, a Pedregulho é conhecida também por sua diversidade e participa, sempre que possível, de encontros com autores e futuros autores.


2 - Qual foi a grande mudança do começo da editora para os dias de hoje?


As mudanças acontecem a passos pequenos, mas sempre estão surgindo. A consolidação da equipe é uma mudança que considero grande. Poder contar com mulheres dispostas a difundir a literatura de forma inovadora e, principalmente, trabalhando juntas para isso, é uma realização e tanto. Agregar novos autores e mostrar que todo mundo pode ser escritor, que há essa possibilidade dentro do trabalho com o texto, é algo que faz valer o objetivo da Pedregulho. 

3 - Como você vê a produção literária do Espirito Santo? 


Considero ótima a produção dos autores do Espírito Santo. Estamos em um nicho fora do eixo central da literatura no Brasil, ainda somos pouco (ou não) conhecidos fora daqui e, também, no interior do estado. A circulação da literatura, na Grande Vitória, acontece de forma ampla (Vitória tem três pessoas, né?) pelos saraus, debates e contatos diretos dos autores. A troca acontece sempre.

4 - Qual a maior dificuldade em se manter como uma editora independente?

As editoras independentes, que publicam a partir de 200, 300 exemplares por tiragem, são responsáveis por movimentar e dar vida a grande parte do cenário literário brasileiro. Há uma força e uma peculiaridade no trabalho dessas editoras que não há [mais] nas grandes empresas do ramo. O autor iniciante, por exemplo, se reconhece no outro que acabou de ser publicado; ele vê uma possibilidade real e bem próxima de também ter o seu projeto transformado em livro. E o mais interessante é que o contato com a editora é feito no lançamento de outro autor, em qualquer evento de literatura ou mesmo até numa conversa informal de bar. Independentemente da forma, é de uma maneira muito mais próxima, leve e tão séria quanto em qualquer outra editora de grande porte.


Se formos colocar na ponta do lápis, uma editora independente ganha pouco se dispõe o seu catálogo em livrarias – o que é bom para a divulgação da editora, mas financeiramente não é a melhor opção. Muitas livrarias trabalham em regime de consignação, e daí sai uma boa grana (para elas). A comercialização é um pouco mais complicada, mas adaptável no caso das editoras independentes. Um bom lugar para venda de livros hoje é a internet. Outros que auxiliam muito são os eventos, também independentes, feitos por pessoas com a mesma estrutura empresarial.


As pequenas editoras ganham em muitos aspectos, como o investimento em projetos gráficos diferenciados. A Pedregulho faz questão de manter um contato direto com o autor e deixar que ele participe dos processos de montagem do seu livro. Consideramos bastante importante esse contato. É necessário que o autor veja o seu trabalho sendo valorizado antes de ser impresso.


As pequenas tiragens são supervisionadas com mais facilidade e carinho. Isso, sem dúvidas, evita uma produção barata e ruim. Se você apresenta uma obra com um projeto gráfico pensado exclusivamente para ela, com certeza ganhará leitores espontâneos. A literatura feita de forma independente, para mim, é mais valiosa de todas. As grandes empresas do mercado literário provavelmente já perderam o encanto de ver um livro pronto. A coisa ficou mais comercial. Para mim, como editora, é de disparar o coração quando um livro sai da gráfica1.


5 - Vivemos um momento político e social muito difícil com diversos ataques à democracia e o avanço de ideias de fascistas. Como você enxerga o papel da literatura na luta antifascista e antirracista? 


A literatura é política o tempo todo. Se não se vê política na literatura, quem está fazendo ou consumindo a literatura está fazendo isso de forma muito errada. Nós precisamos, sempre e cada vez mais, estar na frente direta de luta contra todo tipo de preconceito e toda ideologia política autoritária. Continuaremos a publicar, continuaremos incomodando com nossas posturas e nossos textos. Sempre juntos.



1. Nessa resposta estão trechos da entrevista concedida para Vitor Cei, publicada no livro Notícia da atual literatura brasileira: entrevistas, em 2020, pela Cousa.


Entrevista feita pela jornalista e escritora Lívia Corbellari , idealizadora do projeto Livros por Lívia e responsável pela comunicação da Editora Pedregulho.

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