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Foto do escritorEditora Pedregulho

Entrevista com Fernanda Tatagiba




Com uma poesia que se une pelas relações humanas e seu vínculo com a natureza, Fernanda Tatagiba nos apresenta seu segundo livro Labirinto mínimo (2019), com poemas (quase) todos escritos entre 2012 e 2016, período que morou na cidade do Rio de Janeiro.


Filha dos escritores Fernando Tatagiba e Dalva Broedel, começou a escrever poemas na adolescência. Lançou seu primeiro livro de poesia À Sombra das Coisas Turvas em 2011 pela editora Cousa e Lei Vila Velha de Cultura e Arte. Formada em Ciências Sociais, atua como professora na rede Estadual de Ensino do Espírito Santo. Conversamos com a autora, que falou um pouco sobre processo criativo e a produção do livro mais recente.


Confira nossa entrevista:


1 - Como costuma ser o seu processo criativo? Você tem uma rotina ou escreve apenas em alguns momentos em que se sente mais disposta?


Não tenho uma rotina. Às vezes faço um poema ou um verso mentalmente e passo para o papel depois. Em alguns momentos uma imagem ou o som de uma palavra ou mesmo uma ideia me vem e vou trabalhando mentalmente e pesquisando aquele universo, meio que sondando. Às vezes apenas com um interesse no assunto, como dunas, por exemplo, que estava muito ligada à imagem de dunas e fui pesquisando até que aconteceu um poema, mas também poderia não ter rolado.


2 - No "Dica do escritor", você disse que utiliza muito a fotografia para lhe ajudar a escrever. Como começou essa relação com a fotografia e a poesia?


A relação com fotografia tem a ver com a relação com a imagem, que é bem forte nos poemas. A fotografia é uma maneira de trazer uma imagem como inspiração. Ela me traz um universo diferente que sem ela não pensaria naquele momento. Neste período de quarentena, especialmente, a fotografia foi surgindo como forma de “viajar” para outros lugares. Tenho assistido documentários de natureza por causa desse anseio também. Mas respondendo à pergunta sobre a origem do meu interesse, posso dizer que sempre gostei

muito de artes plásticas e fotografia. São duas paixões que gosto de estar perto.


3 - Labirinto mínimo é seu segundo livro. Qual a grande mudança que você enxerga na sua poesia nessa nova fase? 


São poemas que tentam, sobretudo, tirar ou performar a retirada do eu. É a tentativa de observar as coisas sem ser vista. Encontrar uma forma mais sintética possível de dizer as coisas. Talvez por isso quase todos os poemas não tenham título. Tento desenvolver uma espécie de aparição. As imagens e palavras surgem e pairam no ar, como uma espécie de fotografia. É uma tentativa abstrata de chegar ao ponto em que eu nem precisaria escrever um poema para aquelas palavras traduzirem uma imagem ou uma ideia. Que se perceba através da leitura do poema que o que está sendo lido seria e é mesmo sem o poema.


4 - No Labirinto mínimo percebe-se uma relação muito íntima com a natureza também presente nas ilustrações. Gostaria que você comentasse um pouco sobre isso.


A natureza me parece esse lugar da simplicidade e clareza. As cosias são e se manifestam, diferentemente do universo humano, sem precisar de nós. Ela comunga com a busca pela linguagem sintética que venho trabalhando com os poemas. Parece ser uma resposta ou um alento para a inquietação onde surgem os poemas. Assim, poderíamos não precisar das palavras, não querer escrever um poema. Porém, quando sentimos o vento, ouvimos um som ou pensamos em uma imagem parece que há uma inquietação, uma vontade das coisas não serem apenas aquilo. Interferimos e fazemos poema, a música e a pintura. Porém, a natureza nos lembra que apesar da nossa criação, ela apenas é, mesmo sem o meu poema. Então ela me lembra desse lugar de “ser”, mesmo através de um poema surgido da insuficiência do contentamento. São muitos movimentos, esse lugar de inquietação e falta que surgem os poemas nos iguala também à força da criação, à matéria-prima da natureza. Além disso, acho que há um esgotamento das formas humanas, e das cidades como extensão. A natureza é o novo antigo e eterno. A natureza é ar fresco.


5 - Vivemos um momento político e social muito difícil com diversos ataques à democracia e o avanço de ideias de fascistas. Como você enxerga o papel da literatura na luta antifascista e antirracista? 


Difícil saber das implicações práticas que um poema tem contra o combate ao fascismo. Mas a arte certamente é muito atacada por qualquer governo autoritário por ser libertária. A arte mostra e diz as coisas que nenhum discurso conseguiria. Através de um poema ou uma imagem, como uma charge, você consegue por meio da sensibilidade e das emoções juntar as pessoas, mesmo que não fisicamente. Nessa quarentena estamos vendo esse poder. A arte é algo muito difícil de ser controlado e massacrado porque depende de muita pouca coisa material para acontecer (ela sobrevive mesmo com um papel e um lápis, ou mesmo apenas com o próprio corpo, em uma dança) e está sempre presente nos lembrando da urgência da liberdade, da criação e da mudança.


Entrevista feita pela jornalista e escritora Lívia Corbellari , idealizadora do projeto Livros por Lívia e responsável pela comunicação da Editora Pedregulho.

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