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  • Foto do escritorEditora Pedregulho

Cinco poemas de Marília Carreiro


a falta

intensifica o desejo

motor dos passos


(instabilidade irracional)


o inconsciente

deus da plenitude

do desejo

éter arcaico,

sopro da alma


função psíquica necessária


figura o mundo

através da experiência.


a imagem


– um arquétipo na dança da morte –


é suscitada pela reminiscência,

pelo sonho


traz sensações,

(des)prazeres


endogênicos

exogênicos


base das memórias

cisão interna




adornei meu antolho

pra não sair do rumo

adorei o meu modo

de não cair no fundo

do poço que era eu


criei asas

voei para os céus

das minhas vontades


voltei ao pó

ao mangue

à lama


à incerteza

do concreto

de ser salva

da fome

do risco

do câncer

do tempo


do deus homem e sagrado

que fizeram e me deram

e eu criei como um punidor

junto do meu próprio perdão


meu sistema de prisão




esse incômodo lateja

como um relógio

que não me deixa esquecer

do baú que, aberto,

projeta reflexo


[o espelho é convexo]


e essa é a parte

difícil de tragar

é o que eu preciso matar

é o que vai me absorver




não sei dizer coisas bonitas

não sei olhar

nos seus olhos

nem nos olhos de ninguém

gosto dos ladrilhos

do asfalto

do chão

é mais fácil

é mais simples

é foda

o vazio

a ausência

esse coágulo.

tento me afastar

e só me aproximo

das formas instáveis

dos vínculos mutáveis

e certos

como um desfibrilador

num corpo sem vida




o tempo não tem memória

mas tem fome

e devora voraz

tudo o que vem pela frente

e deixa restos

nos cantos

nas coisas

na vida


quando se vê

passou tempo demais

porque o tempo não rodeia

vai rei, reto

roendo rápido

segundos, minutos

horas, oras

verdades


o tempo é exercício

de conformidades


----------

Marília Carreiro é formada em Letras pela Ufes e idealizadora da Editora Pedregulho. Autora de AmorS e outros contos e Opala Negra, publica poemas-percepções nas stories do seu Instagram @mariliacafe.

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