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  • Foto do escritorEditora Pedregulho

Há senso no não senso

Atualizado: 10 de set. de 2018

Umbigada nau, primeiro livro de Carlos Poleze, será lançado dia 5 de outubro de 2018.


A fera é assaz lúcida. Num texto voraz, Umbigada nau alarga a fronteira das significâncias. A escrita do livro se deu, em parte, das observações do autor sobre a canalhice próxima e nem tão próxima assim, de aproximadamente 2013 para cá; também da rua, tão escrota. Do orgulho. Do cru da gente que perde as estribeiras; a finitude, a palidez e o comprometimento com a verdade. Conversei com Carlos sobre o processo criativo & afins. Deixo aqui o máximo possível sobre o estudo e a produção de Umbigada nau.

Ia tendo insights meia boca e alguma certeza sobre antigos insights que confirmavam os atuais, menos meia boca. É o diálogo leitura-mundo. Fora as repetições, comportamentos, aventura cotidiana mesmo, de homem comum, mundo com gente dentro, complexa e complexada, puro astral etc.; alguns se tornam abjetos, coisas, a figura da mentira, sobretudo pra si. A trapaça. Ranhuras da política do bem simulada nos discursos, o estar da espiritualidade terrível, sugestionável. O mundo tá cheio, em nós e não nós. Um vírus? A exterioridade devora a moçada, entendeu como é que é? Não é a última novidade.

Carlos anotava tudo o que podia em papel e colocava dentro dos livros que estava lendo. Fragmentos (ou fragmento de fragmento), notas de leitura, raramente impressões pessoais. A desgraça, que atravessa o existir mais que picos de alegria que o ser humano habita ou imagina habitar simulando, ainda que como algo provisório, trouxe a necessidade de fazer algo.

O sapiens persiste, inda que gesto mudo e quase solitário, e honesto; pessoas falam que é pra não pirar que produzem algo, não é o caso do negócio aí, embora não negue por completo alguma terapêutica no fazer de um e outro que é bem digno e escrito com tripas de fato. No caso aqui, faça aí imagem de uma urgência náufraga, cai bem.

O livro foi escrito à mão, e depois tudo era passado para o computador. Ao certo volume do que seriam as páginas, Carlos acrescentou alguns acontecimentos-imagens de última hora (mais outro bocado, mais longínquos) e quando viu tinha o livro. Parte da decisão de publicar surgiu quando conheceu casas destinadas ao cuidado – que não cuidam – de idosos, por conta de um descaso.

Mais da paisagem-matadouro de luz picareta. Alguns sorrisos de luz picareta ainda vivem para além do exemplo em si, está para todo lado. Fagulha blindada e vã errante de tão micro, ao mesmo tempo óbvia, o que não é simples, o óbvio. Mais imagens, Marília. Mais ou menos por aí. Segui ruminando a experiência a fricções. Dia não preciso, notava lá nanico volume de folhas preenchido devidamente relidas e com grampos (detalhe extremamente importante) que de alguma maneira teriam algum sal. Soube depois, numa visitação. Se é que. Você sabe... O sal... Até então desconfio. Percebi que dava pra tocar o projeto, entre os absurdos do estar das relações interpessoais; a pressa, o burocrático, a respiração rasteira, a velocidade, pessoas falsas, pessoas boas. Feedbacks sem hora marcada. Nem sempre relações concordantes, o que problema não trouxe. Ao contrário. Experiência concreta é importante.

Umbigada nau tem uma estética diferente de grande parte dos livros publicados recentemente. Traz jogos de palavras, trava-línguas e, como disse Pedro Gazu no prefácio, uma “erudição de viés acadêmico”. Há observação, escuta; envolvimento para fazer o livro nascer, inda que achatado de tanta rachadura. Exige leitura concentrada, pois é denso. A estética pode advir da imersão no vozerio ruidoso do cotidiano, apesar de uma leitura quase silenciosa pode resultar daí. Da não comunicação evidente do convívio humano também, entrecortado pelo que de desespero chamam, que nunca sai de moda, o corpo, a poética, o entrópico, o sistema de excessos e menos sentido.

Há o diabo e as diabetes. Há parabólicos de tanto nada no mundão ansioso, torpes, a meio que usam outros quão meio ao vadio e carne moída do sempre meio, veio, gente que se foi não sei conduzida a experiências concretas, pálidas. [...] Não há conversa. Ao menos não é o que parece e até transparece quando você capta, enquanto mortal, o fenômeno a cada esquina, esquina bastante promíscua, círculo vicioso dos infernos sem dúvida. Uma coisa que você faz lembrar é e há desarticulação do articulado, e o contrário também. A costura, dependendo de quem dialoga com o livro, descostura, advém do cansaço, mas não só. Da agonia, vida prolongada? Não muito eufórica. Há o riso afogado. Em dois ou três lugares – informação inútil? - deve haver um eu forjado no documentado em questão. Mamíferos extravagantes. Graça há. Se tivesse que resumir, tentar pensar aqui-agora um resumo, Marília... Acho que.
[...]
Um ponto. Nada mais. Pode ser que conduza a quem o ler a pensar uma valorização do inferior, como dizem; do podre espírito, do baixo e excessivo sensualismo, etc. Pedro, que você diz, farejou inventando os batuques, a língua sonora, a carcaça sonora etc. O som, o desagradável. Exterioridade, carne dissipada, despirocar de indivíduos, engolidos por ela num dentro impossível. Graça, se, doentia; quando rememoro é por aí. Quando quem sabe você ri do que não é para rir.

Costumo pensar que, de alguma forma, as leituras que fazemos – do mundo e de textos – influenciam no que escrevemos. Sempre pergunto para os autores o que eles andam lendo. A lista do Carlos passa por Pessoa, Cioran, Freyre, Mário Ferreira, Osman Lins, Céline, Becker, Unamuno, Carolina Maria de Jesus, Campos de Carvalho. Releitura que vai e volta. Leituras poderosas. Entre seus próximos projetos, estão dois livros: um físico e outro digital.


Sobre o autor

No formal até aqui, que nada pouco define, estudou Letras/Biblioteconomia(s); informal no atual pesquisa desinformação (a ciência da) cultura comportamento máquina; (mais) culinária do dentro em paralelo; ora batucador é; finitude, transfiguração, tecnologia(s) deformação de molho também: não simulado.


Serviço

Lançamento do livro Umbigada nau

Quando: 5 de outubro de 2018, sexta-feira

Onde: Kaffa Cafeteria ( R. Darcy Grijó, 50, Jardim da Penha, Vitória - ES)

Preço do livro: R$ 25,00

Aberto ao público


Dados técnicos

ISBN: 978-85-67678-27-6

Tamanho: 13x19cm

Edição: 1ª

Ano: 2018

Idioma: Português

Número de Páginas: 106




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