Editora Pedregulho
Entrevista com Adriana Falqueto
Atualizado: 12 de ago. de 2020
A pesquisadora Adriana Falqueto Lemos publicou recentemente com nossa editora a sua dissertação de mestrado e a sua tese de doutorado que definem os videogames e suas autorias, a contemporaneidade e o futuro dos games studies e dos estudos literários. O e-book "Literatura e videogame: Como pesquisar e analisar videogames dentro dos Estudos Literários" já está disponível de graça AQUI.
Conversamos com a autora para ela nos contar um pouco como começou o seu interesse por video games e pela literatura e os seus objetivos com a pesquisa. Confira aqui embaixo:

1 - Como começou a sua relação com videogame? Você costuma jogar ou era mais uma curiosidade de pesquisadora? Eu comecei a jogar videogame há muitos anos atrás. Quando ainda era bem criança tive um Atari. Eu gostava de jogar Bobby is going home e esse jogo me marcou muito. Depois eu tive um Master System, um Mega Drive e por último o Playstation marcou minha adolescência pra sempre. Me chamaram atenção os jogos de RPG com narrativas muito interessantes, como o Phantasy Star e depois a série Final Fantasy. Depois que eu comprei o Playstation 2 fiquei estagnada, ultimamente jogo mais jogos de celular por falta de tempo, mas planejo comprar um X-Box. 2 - E a sua relação com a literatura? Parecida com videogame, eu fui alfabetizada pela minha mãe e sempre li. Lia diversos artigos de uma enciclopédia que havia lá em casa, alguns romances, e depois fui pegando o que havia na biblioteca da escola. Os livros que mais me marcaram foram o Morro dos Ventos Uivantes e O Retrato de Dorian Gray, além de contos de Edgar Allan Poe. Quando eu decidi fazer letras eu quis fazer inglês porque eu gosto muito de literatura norte-americana. Acho que os textos são ágeis e bastante modernos, no sentido da facilidade de ler mesmo. Considero Tennesse Williams, Ernest Hemingway, H. P. Lovecraft e Jack London como grandes modelos, além de Virginia Woolf. 3 - A princípio, literatura e videogame, parecem temas bem distantes. Qual foi a linha de pensamento que uniu esses dois campos na sua tese de doutorado? Eu comecei a pesquisar como estudar videogames nos estudos literários quando fiz meu trabalho de conclusão do curso de Letras Inglês. Depois Eu me propus a estudar uma metodologia para esse estudo e no doutorado eu apliquei a metodologia. A ideia é tentar extrair o máximo de sentido possível através dos diversos meios contidos no videogame, que são a música, as imagens e a interação física do jogador, para além do que já é bastante complexo: a narrativa e a apreensão dos sentidos desse "texto". 4 -Você vê também uma influencia da literatura para a criação das histórias nos videogames? E vice versa? Certamente para a criação de histórias de videogames... A literatura fez nascer o cinema também, praticamente falando. Os videogames certamente já influenciam a literatura, assim como os filmes o fazem também... Livros com múltiplos caminhos como os livro-jogos de Steve Jackson ou O jogo da amarelinha de Julio Cortázar.

5 -Você poderia indicar alguns livros da sua bibliografia para quem esta interessado no assunto?
Claro! O complicado é que eu realmente acredito que algumas fontes, que estão em inglês, são as mais interessantes. Recomendo The Art of Videogames, do Grant Tavinor, que é um filósofo que desenvolve um texto interessantíssimo sobre o que é o texto do videogame e como entendê-lo à fim de extrair sentido. Muito do que escrevo sobre videogames eu aprendi com esse grande autor, assim como com Miguel Sicart, em The Ethics of Computer Games. Sicart consegue chegar ao grande X da questão da pesquisa sobre videogames, algo que me fascina muito; ele fala sobre como a formatação do próprio mundo do jogo impele ou impede com que o jogador haja de diversas maneiras e que isso é uma questão ética dentro da programação do jogo (um parâmetro computacional que insere o que é ético e o que não é no jogo). O artigo The Future of Game Studies, de Mia Consalvo é fundamental para quem está começando a pesquisar sobre videogames agora. Em português, vou recomendar a dissertação Games contando histórias: uma discussão sobre a narrativa nos JRPGs de Clarissa Marquezepi Picolo,que desenvolve trabalho similar ao que eu desenvolvo.
Entrevista feita pela jornalista e escritora Lívia Corbellari , idealizadora do projeto Livros por Lívia e responsável pela comunicação da Editora Pedregulho.